Com a auto estima quase a zero, jurando que nunca mais na vida ia conseguir chegar a saltar 1m, criei um “codinome” e entrei no campeonato.
Depois de descobrir que sou portadora de Esclerose Múltipla e saber que tive uma perda de força irreversível na perna esquerda, tive que recomeçar o Hipismo do zero. Reaprender a trotar ( o que foi bem mais difícil do que quando aprendi a montar na primeira vez), a galopar e principalmente a saltar.
Voltei a saltar vara no chão e a morrer de medo de saltar 60cm. Cheguei a pensar em desistir, pois toda vez que monto não sinto minhas pernas direito, o desequilíbrio era constante, junto com a quase queda e sim, algumas quedas.
Demorei muito para confiar em mim, achar outro ponto de equilíbrio. E o medo é uma constante.
Então resolvi entrar na Copinha, como Donatella Garzi. Os únicos que sabiam eram minha família e quem treina no mesmo haras que eu. Os outros organizadores e os cavaleiros convidados nem tinham ideia (de certo estão sabendo só agora). Queria ser julgada e saber o que deveria fazer para melhorar e evoluir, sem a intervenção do meu nome.
Comecei a primeira etapa com uma pista de 60cm, com MUITO medo. Tive uma crítica dura por ser uma pista desta altura.
Segui as próximas etapas indo para 80cm, recebi críticas ok, outras mais severas, algumas focando na minha falta de perna, outras no descontrole do meu corpo e algumas no descontrole da minha égua e na dificuldade de condução dela.
Fui para 90cm, tive um feedback bom… E resolvi seguir em frente.
Na penúltima etapa fui para 1m, e tomei aquele balde de água fria. Avaliação bem ruim mesmo. Aquela hora que você lê e pensa “o que estou fazendo?”
Última etapa e durante o treino, minha perna falha, não consigo me equilibrar e fui fazer uma visita para o chão! Doeu, muito fisicamente e o ego também (ainda tá doendo muito meu pé). Aí o medo veio com força total. Fiquei apavorada com 1m.
Pensei em não fazer a última etapa. Depois em baixar de categoria… Mas lembrei o porque estou fazendo isso, quero me superar voltar a fazer o que amo, não deixar a doença me derrubar, se cheguei até aqui não é para voltar. Fácil não estava. Desde quando fui para 1m estava insegura, a égua nunca havia feito isso.
Mas resolvi tentar fazer a pista ( petrificada de medo, querendo desistir só de olhar, tentando achar uma desculpa para sair fora). Esse é o problema de treinar com a família, na frente da minha filha e do meu pai, eu não poderia desistir.
Quando terminei a pista, deu um alívio e uma sensação tão boa, eu consegui, venci meu medo, fiz a pista. Na minha cabeça tinha sido uma caca, mas eu fiz.
Até que chegou a avaliação. Fiquei no céu. Nota máxima. Jamais havia imaginado algo parecido, jamais mesmo, minhas notas na copinha tinham sido sempre muito ruins, já estava sendo a lanterninha sempre.
Foi meu melhor presente, presente de natal adiantado. Ver que meu esforço valeu a pena, que aquela pessoa aterrorizada conseguiu. Que estou no caminho certo. Sei que ainda tenho muito pela frente. Tenho muitas restrições, não posso treinar mais de 1h por dia, tenho que ter intervalo de 1 dia para cada treino, não posso treinar no calor e assim vai.
Mas só de saber que é possível, que com cuidado e dedicação da pra chegar, já dá um alívio. E me faz ter vontade de chegar mais longe. Restrições vou ter para sempre, cada vez mais aprendendo a me adaptar, mas desistir jamais.
Tenho só a agradecer a todos que aceitaram fazer parte da Copinha. Aos que julgaram e nos ajudaram a evoluir neste ano tão complicado para o esporte. Aos que competiram e trouxeram este sentimento bom de poder fazer parte de algo.
Quanto a doença, vou ter ela para o resto da minha vida, pode evoluir ou estacionar, mas aí só o tempo vai dizer. Mas não pretendo parar, o Hipismo me fez querer seguir em frente. É o que me motiva, não posso mais sair a pé na rua sozinha, não consigo ficar de pé por mais de 1h, não consegui subir escadas direito e coisas comuns como correr e pular são impossíveis.
Mas montar eu consigo, o cavalo me dá pernas, pernas que conseguem me levar a lugares que sozinha eu não chego, me dá esperança que posso praticar um esporte e que posso ser “igual” a todos. O Hipismo me liberta, me faz acreditar em mim mesma e no meu esforço.